Sob pressão, Pazuello viaja a Manaus sem ‘voo de volta’
Todo esse governo deveria receber uma passagem só de ida, mas não pro Amazonas No último sábado (23), a Procuradoria-Geral da República solicitou ao STF (Supremo Tribunal Federal), abertura de inquérito para apurar a conduta do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em relação à crise enfrentada em Manaus. Agora o Planalto tenta desesperadamente apresentar o […]
25 de janeiro de 2021
Todo esse governo deveria receber uma passagem só de ida, mas não pro Amazonas
No último sábado (23), a Procuradoria-Geral da República solicitou ao STF (Supremo Tribunal Federal), abertura de inquérito para apurar a conduta do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em relação à crise enfrentada em Manaus.
Agora o Planalto tenta desesperadamente apresentar o ministro como alguém que está à frente do combate à pandemia, manda Pazuello para a capital do Amazonas junto com as doses da vacina na esperança de corrigir toda indignação causada por sua atuação desastrada e criminosa duas semanas antes.
A verdade é que com o pedido de abertura de inquérito pela PGR, cresce a pressão, principalmente nos meios militares, pela demissão de Pazuello. Mas Bolsonaro não quer dar o braço a torcer.
Agora é necessário a pressão para que a investigação de fato avance e Pazuello seja responsabilizado cível, administrativamente e criminalmente pela sua deliberada omissão frente a uma crise anunciada.
No pedido feito ao STF, o procurador-geral da República, Augusto Aras, ressalta que, em relação à crise enfrentada por Manaus, Pazuello tem “dever legal e possibilidade de agir para mitigar os resultados”.
O documento destaca ainda que chama a atenção, entre as aparentes prioridades da pasta, a entrega de 120 mil unidades de hidroxicloroquina como tratamento ao coronavírus, “quase a mesma quantidade de testes” para detecção da doença.
Pazuello agora se apressa em dizer que nunca recomendou tratamento precoce com cloroquina, amplamente desmentido por vasta documentação do próprio ministério da Saúde. Essa negação tem a ver com o medo de que a investigação o criminalize.
Após um ano de pandemia e dezenas de estudos, a cloroquina e a hidroxicloroquina não mostraram efeito benéfico no tratamento da Covid-19. Pelo contrário, foram comprovados seus graves efeitos colaterais.
Na petição, Aras destaca que a distribuição de cloroquina como medicamento para tratamento da Covid-19 foi iniciada em março, inclusive com orientações para o tratamento precoce da doença, todavia sem indicar quais os documentos técnicos serviram de base à orientação.
Outro elemento destacado por Aras é a demora do ministro em tomar alguma atitude. Aras observa que, “apesar de ter sido observado o aumento do número de casos de Covid-19 já na semana do Natal”, Pazuello optou por enviar representantes da pasta a Manaus apenas no dia 3 de janeiro.
“Uma semana depois de ter tomado conhecimento da situação calamitosa em que se encontrava aquela capital”.
O procurador-geral afirma ainda que desde 6 de janeiro constava como recomendação “considerar a possibilidade” de remoção de pacientes de Manaus.
“Todavia, apesar dessa recomendação e da informação de que os estados disponibilizaram 345 leitos para apoio aos pacientes provenientes de Manaus, os primeiros deslocamentos ocorreram apenas em 15 de janeiro”, ressaltou.
Os relatos são estarrecedores, mesmo de posse de informações básicas, Pazuello preferiu não agir. O ministro foi avisado por integrantes do governo do Amazonas, pela empresa que fornece o produto e até mesmo por uma cunhada sua que tinha um familiar “sem oxigênio para passar o dia”.
O que aconteceu em Manaus foi criminoso, mas terrivelmente coerente com a atuação geral do governo em relação à pandemia. É a mesma irresponsabilidade criminosa de quem desdenha da doença, de quem sabota a vacina e as medidas de proteção, mas agora tudo isso começa a ficar mais claro para a maioria do povo e de certa forma é o próprio ministro que faz confissões ao não conseguir esconder o óbvio.
Que Pazuello e Bolsonaro paguem por seus crimes, isso é o mínimo que se pode esperar por um povo que já chora a morte de mais de 215 mil brasileiros.