COP 25: Brasil como protagonista da tragédia ambiental
A Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-25) terminou nesse último domingo, em Madri, na Espanha. Seu resultado foi reconhecidamente muito ruim. Um dos primeiros a se pronunciar nesse sentido foi o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres. O principal nó a ser resolvido tinha a ver com emissão de carbono na atmosfera, […]
17 de dezembro de 2019
A Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-25) terminou nesse último domingo, em Madri, na Espanha. Seu resultado foi reconhecidamente muito ruim. Um dos primeiros a se pronunciar nesse sentido foi o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres. O principal nó a ser resolvido tinha a ver com emissão de carbono na atmosfera, responsável pelo aquecimento global. O artigo 6º do Acordo de Paris ficou sem resolução. Lamentavelmente, os maiores poluentes da atmosfera emperraram os debates. Porém, dessa vez, contaram com o apoio de um novo parceiro: o Brasil.
O Brasil sempre se destacou não só por ajudar a costurar acordos de preservação ambiental, como eventualmente propunha metas ainda mais ousadas. Dessa vez, o contrário aconteceu. A atuação brasileira foi digna de imenso constrangimento por inúmeras razões.
A primeira delas, sem sombra de dúvidas, veio antes mesmo da COP começar. O mundo, e os democratas em geral, assistem com horror a política ambiental de Bolsonaro e seu ministro-condenado, Ricardo Salles. O país, nesse ano, foi palco de tragédias ambientais provocadas ou muito mal acompanhadas pelo governo em questão. Houve o acidente em Brumadinho, as praias do nordeste foram agredidas por uma imensa mancha de óleo, as queimadas e desmatamento da Amazônia merecem o triste lugar de destaque.
Queremos aqui destacar a imensa investida de Bolsonaro contra a Amazônia. Em seu governo, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), entre agosto de 2018 e julho de 2019, foram desmatados 9762 Km², aumento de 30% em relação ao ano passado, na Amazônia brasileira. Entre agosto e outubro de 2019, a área desmatada saltou de 1792 para 3429 Km², aumento de 91%.
Os incêndios se multiplicaram. Entre janeiro e agosto, foram 46825 mil focos, aumento de 111%. Somente no mês de agosto, 30901 focos, aumento de 196%!
Isso sem entrarmos na violência crescente contra as populações originárias, o desmonte proposital das instituições de fiscalização, a perseguição a funcionários, o incentivo ao crime ambiental e falsas acusações contra ONGs e ambientalistas.
A grilagem em terras públicas parece ter sido autorizada. Unidades de Conservação, terras indígenas, terras públicas não autorizadas foram palco de 41% dos desmatamentos. Pegando somente as Unidades de Conservação Federal, o crescimento foi 84%. Observado todo o desmatamento acumulado, a Amazônia perdeu 800 mil Km², ou 20% do seu território original.
Qual é a gravidade disso? A Amazônia é maior patrimônio do povo brasileiro, e também dos outros nove países que compartilham sua guarda. A riqueza natural contida nesse imenso território é difícil de mensurar. Por outro lado, a maior floresta tropical do mundo também acolhe a maior bacia hidrográfica. Através do processo de vapotranspiração, a floresta lança para a atmosfera 20 trilhões de litros de água por dia, o que permite a formação dos chamados “rios voadores”. Estes “rios” são fundamentais para o equilíbrio climático da América do Sul e todo o globo.
Nesse ponto, voltamos à COP, cujo objetivo inalcançado era estabelecer metas e planos para conter as mudanças climáticas. Como vimos, o Brasil já chegou desmoralizado e contribuiu para o não sucesso da reunião.
Um dos pontos da Conferência que não andou foi a criação de um fundo de 100 bilhões para ajudar países em desenvolvimento a cumprir suas metas. Embora valha reforçar que o centro era a regulamentação do artigo 6º do Acordo de Paris, sobre a emissão de carbono. Este ponto voltará a ser discutido na COP do ano que vem, a ser realizada em Glasgow, Escócia.
O papel do Brasil foi lastimável. O país limitou-se a pedir dinheiro. O problema é que todos viram a maneira inescrupulosa com que Salles e Bolsonaro trataram o Fundo Amazônia, contribuindo na prática para o seu fim. É claro que com esse retrospecto a possibilidade de acordo estava reduzida.
Para piorar, o Brasil propôs tirar do texto da resolução final o mau uso da terra como causador de mudanças climáticas. Ou seja, para a delegação brasileira, em sintonia com “negacionistas”, o desmatamento e a agropecuária nada têm a ver com a emissão de carbono. Como se não bastasse, os “diplomatas” desse triste país chamado Brasil resolveram propor a retirada da menção aos oceanos, esquecendo que umas das tragédias anunciadas com a mudança climática é justamente o derretimento de geleiras, o que tornará submersas cidades de todo o mundo.
Ricardo Salles, um criminoso ambiental, chegou a responsabilizar a hipocrisia dos países ricos. Partindo de um ministro do Meio Ambiente condenado por fraudar mapas em favor de mineradoras, a afirmação revela a falta de caráter de Salles. Para celebrar o não acordo na Conferência, verdadeiro interesse do governo brasileiro, Ricardo Salles ironizou, publicando em seu Twitter uma foto de um churrasco, seguida da legenda: “para compensar nossas emissões na COP, um almoço veggie”.
O Brasil segue comandado por delinquentes que colocaram o país como protagonista da tragédia ambiental em curso. Não temos dúvidas de que a gestão ambiental deste governo, por atentar contra a preservação das riquezas naturais, por si só, já configura crime de responsabilidade. Salles, assim como este governo, precisam ser barrados!
Muito obrigado, Ivan Valente (Deputado Federal – PSOL/SP).