O agronegócio militarizado e fundamentalista
O governo Bolsonaro é inimigo declarado dos camponeses e um destacado soldado dos empresários rurais. O que eles reivindicam está lá Bolsonaro para atender. A começar da ministra Tereza Cristina, rainha do agrotóxico e princesa do agronegócio. Linha dura contra indígenas, quilombolas, atingidos por barragens, pequenos proprietários e sem-terra, ameaça constantemente os setores mais fragilizados […]
14 de fevereiro de 2019
O governo Bolsonaro é inimigo declarado dos camponeses e um destacado soldado dos empresários rurais. O que eles reivindicam está lá Bolsonaro para atender.
A começar da ministra Tereza Cristina, rainha do agrotóxico e princesa do agronegócio. Linha dura contra indígenas, quilombolas, atingidos por barragens, pequenos proprietários e sem-terra, ameaça constantemente os setores mais fragilizados do campo. O enfrentamento é a prática.
Na operação destes princípios decidiu indicar Nabahn Garcia, Secretário Especial do Ministério da Agricultura. Ruralista agressivo e verborrágico, que trata as ocupações de terras como “ato criminoso” e que vai agir com “tolerância zero” sobre elas. Fundador da UDR e digno representante da bancada do boi declarou ser favorável ao desmatamento da amazônia e comparou o texto do Acordo de Paris com papel higiênico.
Sua mais recente indicação para a presidência do Incra, o general de Exército Jesus Corrêa, será o responsável pela execução da reforma agrária. Qual o sentido da militarização no trato da terra e do trabalhador rural? O que se deseja com isso? Retomar o tempo da ditadura de tratamento hostil aos sem terra?
Apesar do tamanho do Brasil a distribuição de terra no campo é profundamente desigual e daí derivam as ocupações. Basta uma pesquisa elementar sobre o assunto para verificar que metade da área rural brasileira pertence a apenas 1% das propriedades do país. Uma vergonha.
Uma política de incentivo aos pequenos proprietários geraria um ganho na qualidade de vida de todos. Basta observar que mais de 70% do alimento que chega à mesa do povo brasileiro não vem do agronegócio, mas sim da agricultura familiar.
O que se observa é que a militarização no trato dos problemas fundiários do campo, associado ao fundamentalismo e à ideologização rasteira que dominam o governo Bolsonaro, provocará inevitavelmente maiores conflitos e o aumento da violência no campo.
A equipe de Bolsonaro ainda não desceu do palanque e permanece em campanha disparando palavras de ordem e senso comum como “indústria da Invasão” e “fabriquinhas de ditadores” referindo-se ao MST. O clima de Guerra Fria, retrógrado e populista criado na campanha, ainda dá a tônica de um governo desarticulado, mas agressivo.
A mais nova vítima são os sem-terrinha, atacados pela TV Record em matéria completamente alinhada aos delírios anticomunistas do clã Bolsonaro. Desconhece que o programa educa milhares de camponesas e camponeses, organizados pelo MST, que tiveram acesso à alfabetização, ao ensino fundamental, médio, cursos técnicos e em nível superior.
Na verdade a campanha visa criminalização organizações populares e desconstruir um trabalho civilizatório e educacional onde o Estado é ausente: no seio das populações pobres e interioranas.
Ivan Valente
Deputado federal Psol/SP