Neoliberalismo e a insistência no desastre: o caso do salário mínimo e do Bolsa Família
Desde FHC sofremos um bombardeio midiático, intenso e permanente, que martela em nossas cabeças as mesmas teses fundantes do neoliberalismo. A linha predominante e exclusiva dos analistas econômicos e políticos, que inundam estes meios de comunicação, é a da ortodoxia e do dogmatismo. É o pensamento único em movimento. Ler jornais da grande imprensa, ouvir […]
17 de outubro de 2019
Desde FHC sofremos um bombardeio midiático, intenso e permanente, que martela em nossas cabeças as mesmas teses fundantes do neoliberalismo. A linha predominante e exclusiva dos analistas econômicos e políticos, que inundam estes meios de comunicação, é a da ortodoxia e do dogmatismo. É o pensamento único em movimento.
Ler jornais da grande imprensa, ouvir programas de rádio, assistir debates e notícias na TV é receber doses diárias nada homeopáticas de medidas pro mercado e anti estado. Contam-se nos dedos as exceções.
O bate-estaca segue sempre a mesma toada: estado inchado e ineficiente indica reduzir seu tamanho promovendo cortes orçamentários e ajuste fiscal, medidas acompanhadas de complementos não menos importantes, como privatizações, desregulamentações, desonerações e retirada de direitos sociais, previdenciários e trabalhistas.
Nada de diferente e alternativo merece uma vírgula ou minuto. A redemocratização alcançou partidos, sindicatos, parlamentos e até algumas empresas, mas não a grande mídia quando o assunto é a ortodoxia neoliberal. Neste espaço marcado pelo pensamento único o debate é completamente interrompido.
Para os donos do poder econômico, vulgarmente conhecidos como mercadores de papel, rentistas ou especuladores, não há outra opção. Vá lutar na vida, seja esforçado e empreendedor que o sucesso virá. Não dependa do Estado, pois ele deve estar à serviço do capital.
Mesmo com a avalanche da repetição a maioria do povo brasileiro, que vive de buscar driblar as dificuldades diárias de sobrevivência, repele a maioria destas medidas “salvadoras”. Privatizações e cortes orçamentários são rechaçadas nas pesquisas de opinião pela ampla maioria.
Com mercado de trabalho desregulamentado combinado ao contexto de crise econômica, desemprego e perda de rendimentos, as famílias se lançam no desespero em bicicletas e motocicletas para obter, muitas vezes, menos que o salário mínimo mensal, ainda sem garantias e direitos. Choveu, caiu, quebrou, engravidou? Não ganha. Estudos mostram que nossa jornada de trabalho e qualidade de vida é pré medieval. Voltamos no tempo.
A insistência do ordenamento neoliberal no mundo levou à concentração de renda, desemprego e queda na produção econômica. Os ativos valorizados são papéis, que geram ricos, mas não riqueza.
O caso do salário mínimo é um bom exemplo para mostrar exemplificar esta situação.
Há uma década e meia iniciou-se uma política de elevação do salário mínimo acima da inflação com aumentos reais. Nestes últimos 15 anos ele propiciou uma melhoria da qualidade de vida da base da pirâmide em função do aumento do poder de compra.
Os cálculos do Dieese apontam que, não fosse esta política hoje, ele valeria apenas R$ 573,00.
O Bolsa família (alvo permanente da direita digital e dos milicianos neoliberais) foi um fator que, combinado coma política para o salário mínimo, criou condições de consumo e melhora no padrão de vida dos mais pobres no Brasil. Parece evidente que vender mais pão e leite é sempre mais desejável do ponto de vista da construção de uma nação do que saber quanto vale a ação de uma mineradora ou do bitcoin.
Investir em gente é sempre uma garantia para a economia e, antes de tudo, uma opção pela humanidade. Mas os comentaristas, empresários e economistas insistem na mesma ladainha de que os gastos com os mais pobres provocam crises sucessivas.
Com os governos Temer e Bolsonaro as prioridades são dadas pelas necessidades dos senhores do mercado e não do povo brasileiro. A PEC do fim do mundo e os cortes orçamentários atuais provocam uma hecatombe social de grandes proporções. Os efeitos são sentidos nas ruas.
O PNAD do IBGE mostra um dado assombroso: metade dos brasileiros vive com R$ 413 mensais e no outro extremo, 2,1 milhões mais ricos recebem 40 vezes mais. A desigualdade de renda atinge nível recorde na série histórica do levantamento.
Esta é a questão central deste debate. O Brasil precisa de um projeto de médio e longo prazo que aponte para um projeto de nação soberana que inclua seu povo. O choque necessário é de cidadania e não de capitalismo. Parece elementar, mas que tempos são estes em que é preciso dizer o óbvio?
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL SP