Moro é humilhado no governo, mas não arreda o pé
Moro se esforça para manter as aparências, publica nas redes sociais que tudo está bem entre ele e Bolsonaro, mas a vida real não é esse mar de rosas. Do outrora super ministro chapa branca, Moro tem engolido uma sequência de sapos na gestão Bolsonaro. Desde da indicação de Ilona Izabó para o Conselho de […]
28 de agosto de 2019
Moro se esforça para manter as aparências, publica nas redes sociais que tudo está bem entre ele e Bolsonaro, mas a vida real não é esse mar de rosas. Do outrora super ministro chapa branca, Moro tem engolido uma sequência de sapos na gestão Bolsonaro. Desde da indicação de Ilona Izabó para o Conselho de Justiça, que Moro teve que desconvidar depois da pressão da milícia bolsonarista nas redes sociais, passando pela interferência direta na Polícia Federal e a mudança no COAF, instituindo a UIF (Unidade de Inteligência Financeira), para entre outras coisas, derrubar o presidente do órgão indicado por Moro, por esse ter questionado a decisão de Dias Toffoli de livrar a cara do Flávio Bolsonaro.
Bolsonaro, por seu lado, não esconde as críticas ao Moro, com frases que já se tornaram célebre ao seu estilo peculiar, como “se o senhor não pode ajudar, por favor, não atrapalhe” ou “não esteve comigo durante a campanha”. Bolsonaro, não esconde que se sentiu atingindo por Moro, tanto por esse ter questionado a decisão do Toffoli, como também por ele estar atuando em favor do veto a Lei de Abuso de Autoridade. Nunca é demais lembrar que Bolsonaro morre de inveja de Moro ser o ministro mais popular do governo, essa questão parece que nunca foi resolvida, não só pra ele, como também para seus filhos.
Também é importante destacar que o ministro foi atingido em cheio pela Vaza Jato, se sentido acuado desde que começaram as revelações do site The Intercept, de certo modo, Bolsonaro tem se aproveitado dessa situação particular do ministro para desgastá-lo. A questão que fica é como Moro não reage a esse conjunto de desgastes, até quando ele vai se manter no governo, em Brasília o comentário corrente que se tem é que ele estuda o melhor momento para deixar o governo. Há quem diga que ele já perdeu o “timing” certo. João Doria, com seu oportunismo de sempre, já tenta tirar uma casquinha.
A verdade é que o discurso de combate à corrupção não se sustenta no governo Bolsonaro, tudo é feito para evitar que se avancem as investigações sobre os negócios da família, o esquema de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro, o esquema Queiroz, os funcionários fantasmas, a ligação com as milícias. Depois de interferir em vários órgãos de investigação e controle, a pauta dele agora é a nomeação do Procurador Geral da República, Bolsonaro procura desesperadamente um engavetador geral da república, usa o discurso ideológico para criar uma cortina de fumaça, seu grande problema é ter alguém que de fato siga encobrindo os crimes de corrupção evidentes em sua família.
Moro tenta se equilibrar entre, o símbolo de combate à corrupção, que só foi possível devido à manipulação da grande mídia e o exército de robôs nas redes sociais, e um governo que aos poucos vai se tornando símbolo da própria corrupção. Esse paradoxo cobra seu preço, fica evidentemente que não interessa para Bolsonaro acelerar a tramitação do pacote anticrime, como também não interessa pra ele vetar a Lei de abuso de autoridade.
O desgaste a que tem sido submetido Moro faz parte desta contradição. Fica evidentemente que não cabe combate à corrupção neste governo, a imagem que Moro tenta colocar para sociedade, mesmo com seu viés autoritário, não coaduna com a prática do governo Bolsonaro e isso tem ficado cada dia mais evidente.
Bolsonaro revelou recentemente, por linhas tortas, que houve um acordo com Moro para sua nomeação ao STF. Diante da repercussão negativa, negou o acordo, até porque ficava evidente o serviço prestado, ter tirado da disputa eleitoral o principal adversário de Bolsonaro. Agora vai ficando cada vez mais evidente que o preço a pagar para assegurar essa nomeação se torna cada vez mais pesado para Moro. Ele se desgasta junto com o governo. Qual a simbiose exata dessas duas figuras retrogradas, até que ponto Moro dispõe de informações que podem amedrontar Bolsonaro, até que ponto segue vantajoso para Bolsonaro manter Moro no governo. Como vai reagir a extrema direita no país, terá que fazer uma escolha entre seus dois ídolos.
A única certeza que temos é que é preciso aumentar as lutas, aumentar a resistência a esse governo de destruição, denunciar tanto as arbitrariedades de Bolsonaro como a de Moro, ter claro que ambos se merecem e são cumplices numa política autoritária de destruição de direitos sociais e de ataques à democracia. A conivência de Moro com a barbárie que é Bolsonaro cobrará seu preço, o atropelo à democracia, aparelhamento do Estado, não cabe no figurino de quem diz defender a lei e a ordem. Se a Vaza Jato está desnudando a Lava Jato, deixando claro seu caráter parcial e o atropelo da lei, a experiência do governo Bolsonaro vai deixando claro que não há como combater a corrupção num governo de corruptos.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL /SP