O capítulo vergonhoso da escravidão no Brasil
Há mentiras em circulação que pretendem ser transformadas em verdades, em especial pelo mecanismo da repetição e da dissimulação. A maior delas hoje em dia, é que o desmonte da Previdência vai gerar empregos e fará a economia crescer. É uma bobagem sem fim, mas não é a única. O 13 de maio é parte […]
13 de maio de 2019
Há mentiras em circulação que pretendem ser transformadas em verdades, em especial pelo mecanismo da repetição e da dissimulação. A maior delas hoje em dia, é que o desmonte da Previdência vai gerar empregos e fará a economia crescer. É uma bobagem sem fim, mas não é a única.
O 13 de maio é parte deste rol de teses sem sustentação histórica, mas divulgado exaustivamente como pretensa verdade. Os estudos mostram outra coisa.
O fim da escravidão no Brasil não se deu pela pena da monarquia, nem tampouco da vontade pessoal de uma imperatriz doce e cândida. Como indica a bibliografia a respeito e a marcha histórica dos que sofrem repressão e violência, o final da escravidão resultou de muita organização e luta do povo negro.
Os quilombos, fugas e rebeliões compõem o cenário de resistência contra a opressão, a exploração e a violência física e sexual.
Devemos levar em conta que o Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão. A elite nacional resistia enfaticamente apontando que o modelo produtivo, apoiado na ultra exploração do trabalho, sucumbiria inevitavelmente gerando crise e decadência. E mais: o contexto produziria um caos e os escravos perderiam sua sustentação, logo, ser escravo era uma vantagem.
Como se vê vem de longa data esta postura das elites em vender a ideia de que as dificuldades fazem parte do curso econômico, e que sacrifícios são necessários.
As consequências deste modelo econômico desumano e explorador são sentidas até hoje. Negros ganham menos que brancos e são vítimas diretas do genocídio nas periferias das grandes cidades. E as mulheres estão um patamar ainda mais baixo de valorização e reconhecimento. Os jovens negros são as principais vítimas dos matadores profissionais e está em curso uma política de encarceramento projetada e deliberada.
Lamentavelmente temos à frente do governo federal um presidente que louva a violência e classifica o racismo como “mi mi mi”. Um presidente que declarou recentemente, num programa de televisão, que racismo no Brasil é “coisa rara” e que a “escravização dos negros foi obra dos próprios negros”. A falta de noção transborda qualquer espaço de coerência e respeito com nossa história.
Os exemplos de racismo no Brasil são muito e, infelizmente, persistentes. É impossível negá-los. Fazem parte de nosso cotidiano e compõe o cenário trágico da miséria e da segregação que assolam nosso país de longa data.
Políticas públicas que visam garantir acesso e permanência em Universidades são atacadas pelo conservadorismo, que, com a desculpa do racismo reverso buscam apenas garantir privilégios e facilidades.
O combate aos fakes nas redes sociais que reduzem a escravidão a um mero episódio de temporalidade restrita, impactos sociais irrelevantes e cujos efeitos se desfizeram com o tempo, é uma tarefa permanente de educação social e do exercício do restauro da verdade.
Nossa responsabilidade histórica nos impede de negligenciar com os nefastos efeitos da escravidão no Brasil. 13 de maio é um dia de reflexão e luta, mas não nos esqueçamos que ele é apenas um detalhe menor nesta trajetória marcada pela persistência de brasileiros que ousaram desafiar a crueldade do regime.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL SP