Governo Bolsonaro acumula mais atritos internacionais do que diplomacia e parceiros
O (des)governo Bolsonaro desembarcou em Israel. A viagem é uma cortesia com Benjamin Netanyahu em retribuição à presença na cerimônia de posse. Foi dos poucos chefes de estado a fazê-lo. A visita, mais uma vez, está envolta em atritos diplomáticos e ameaças comerciais. Bolsonaro parece ser o midas da confusão: por onde passa sua brejeirice […]
03 de abril de 2019
O (des)governo Bolsonaro desembarcou em Israel. A viagem é uma cortesia com Benjamin Netanyahu em retribuição à presença na cerimônia de posse. Foi dos poucos chefes de estado a fazê-lo.
A visita, mais uma vez, está envolta em atritos diplomáticos e ameaças comerciais. Bolsonaro parece ser o midas da confusão: por onde passa sua brejeirice deixa um rastro de balbúrdia e atritos. O mais irônico é que as consequências explodem dentro do próprio governo, que se desdobra em contornar os efeitos maléficos por eles próprios criados.
Durante a campanha eleitoral prometeu mudar a embaixada brasileira para Jerusalém, gerando forte reação internacional, até mesmo de países aliados dos EUA. O sonho de consumo de Netanyahu e a submissão de um presidente acostumado a se curvar aos interesses de terceiros, terminou com um escritório comercial que não agradou a ninguém.
Se seu chanceler Ernesto Araujo estivesse menos preocupado com delírios do tipo “nazismo é de esquerda” e “o golpe de 64 segurou o comunismo”, teria tempo para estudar o que vem acontecendo há três décadas na ONU. Exceção feita aos Estados Unidos, Israel e a outras pequenas nações, o mundo todo repudia as ocupações dos territórios palestinos pelos falcões que comandam Israel. Com a criação do escritório passamos a incluir um grupo isolado e amplamente minoritário, tudo o que não precisamos.
A medida inclusive, levou o Hamas, grupo político que comanda a faixa de Gaza, a emitir nota pesada contra o que entende ser uma provocação. E na verdade é, pois em nada mudaria as relações do Brasil com Israel e o mundo árabe caso a embaixada permanecesse onde está.
A ainda a questão econômica. O saldo comercial do Brasil com os palestinos é bem pequeno e com Israel bastante deficitário. Em 2018 acumulamos quase U$ 1 bilhão negativo. Com o mundo árabe, no entanto, nosso saldo é mais de U$ 7 bilhões positivos. As exportações somam 40% de nosso frango e 35% da carne bovina. Obviamente o agronegócio, amigo e fiel escudeiro de Bolsonaro, chiou e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina já agendou reunião com os árabes para ‘compensar’ viagem de Bolsonaro a Israel. De forma pouco inteligente o (des)governo Bolsonaro valoriza o déficit com Israel em detrimento ao superávit com o mundo árabe.
A viagem ainda incluiu uma foto do presidente segurando uma submetralhadora postada com a seguinte legenda: “O que torna uma arma nociva depende 100% das intenções de quem a possui. Defendo a liberdade, com critérios, para cidadãos que querem se proteger e proteger suas famílias”. A frase mostra, antes de uma ideia elaborada, uma dificuldade em ultrapassar a pueridade e o primitivismo cognitivo.
Bolsonaro visitou também um local sagrado para o judaísmo: o Muro das Lamentações. A visita rompe com uma tradição diplomática histórica, onde normalmente, os chefes de Estado visitam o local sem a presença de autoridades israelenses. Os lugares sagrados para os muçulmanos não receberão o mesmo tratamento e foram literalmente ignorados.
O presidente dá demonstrações inequívocas que o exercício de seu mandato é um diálogo permanente com os segmentos mais ideologizados que o elegeram. O país fica, claramente, em segundo plano.
A troca de localização da embaixada atende uma reivindicação de grupos neopentecostais conservadores que enxergam, no atual governo de Israel, representante direto e herdeiro de um passado remoto com quem se identificam. Enquanto Bolsonaro e seus apoiadores pensam em religião e submissão, Benjamin Netanyahu faz política de olho nas eleições neste mês de abril, que pode selar a derrota de seu governo.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL SP