Uma homenagem a Florestan Fernandes nos 100 anos de seu nascimento

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Um militante de tipo especial, absorvente mas também aberto, intransigente na luta mas tolerante com as ideias diferentes, teimoso e de repente cordato, o que lhe permitiu forjar elementos mentais de pesquisa e interpretação datados da mais ampla flexibilidade. É bonita, nesse depoimento, a maneira por que descreve como se formou a sua maestria teórica […]

22 de julho de 2020

Um militante de tipo especial, absorvente mas também aberto, intransigente na luta mas tolerante com as ideias diferentes, teimoso e de repente cordato, o que lhe permitiu forjar elementos mentais de pesquisa e interpretação datados da mais ampla flexibilidade. É bonita, nesse depoimento, a maneira por que descreve como se formou a sua maestria teórica e metodológica; como foi passando pelos temas de estudo até alcançar uma visão completa da sociedade; como elaborou os seus conceitos sem preconceito, adorando com liberdade os elementos necessários para construir uma visão pertinente e atuante. Em todas essas etapas, sentimos o ânimo político no sentido mais amplo, a constante referência aos problemas e necessidades do seu país e do seu tempo.

Assim Antonio Candido apresenta Florestan Fernandes. Concordamos integralmente com as palavras rodeadas de lirismo e poesia.

Florestan Fernandes, nascido de uma família pobre, tornou-se o pai da sociologia no Brasil. Intérprete rigoroso, pesquisador sem tréguas, dedicado não somente a conhecer os problemas dessa terra. A sua sociologia não era qualquer uma. Era senão militante.

Seus estudos são múltiplos e guiados pela ideia de reconstituir um todo social. Pesquisou os tupinambás. A não-integração dos negros no Brasil, pondo por terra a frágil idea de democracia racial. Estudou a integração dependente do Brasil na economia mundial. Entendeu que a revolução burguesa se fez pelo alto, mas não sem a violência de classe dos donos do poder: a autocracia burguesa.

Pensador radical e militante. Sua teoria estava associada à prática. Como professor, defendeu com vigor a escola e a universidade públicas. Foi exilado pela ditadura por pensar e defender o Brasil. Homem engajado, construiu o Partido dos Trabalhadores desde o seu início. Por este partido, tornou-se deputado em 1986.

Nesse momento, as nossas histórias se cruzam com intensidade. Eu, Ivan Valente, candidato a deputado estadual. Ele, Florestan Fernandes, candidato a deputado federal. Juntos fizemos uma dobrada. Uma não. Duas, pois esta aliança cruzou duas legislaturas. Sem medo de ser socialistas era o mote de nossas campanhas.

Florestan, como deputado constituinte, lutou pela transição democrática completa, não somente em termos da democracia formal. Sua democracia tinha conteúdo social. Em 1994, Florestan nos concedeu a honra de prosseguir sua trajetória na Câmara dos Deputados. Escreveu em carta que me apoiava como seu sucessor. Carta essa que o tempo fez o mal serviço de ocultar.

Sim, seguimos e compartilhamos de sua trajetória. Como intelectual e como militante político. Suas dezenas de livros e centenas de artigos muito dizem sobre a realidade social brasileira. Sua atuação militante nos apresenta caminhos de luta.

No dia 22, Florestan Fernandes completaria um centenário. Que fique registrada essa marca, assim como suas palavras e seus ensinamentos.

Em tempos tão duros, citamos Florestan para não esmorecermos: não se deixar derrotar, não se deixar liquidar e garantir vitórias para o povo!

Florestan Fernandes, presente! Hoje e sempre!

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