Adriano da Nóbrega: miliciano abatido e suspeita no ar

Neste domingo, 9 de fevereiro de 2020, Adriano da Nóbrega, o chefão de grupo miliciano carioca, foi morto pela Polícia Militar da Bahia, onde estava foragido há um ano após denúncia. Adriano tem um currículo criminoso bastante extenso. Ex-capitão do Bope, (elite da PM carioca), era suspeito de comandar o Escritório do Crime, milícia violenta […]

12 de fevereiro de 2020

Neste domingo, 9 de fevereiro de 2020, Adriano da Nóbrega, o chefão de grupo miliciano carioca, foi morto pela Polícia Militar da Bahia, onde estava foragido há um ano após denúncia.

Adriano tem um currículo criminoso bastante extenso. Ex-capitão do Bope, (elite da PM carioca), era suspeito de comandar o Escritório do Crime, milícia violenta e enraizada em negócios imobiliários e prestação de serviços, integrava um grupo de assassinos profissionais e, por isso, foi preso e solto várias vezes por crimes de assassinato, tentativa de assassinato e relação com bicheiros. Foi expulso da PM em 2014.

Com este currículo criminal tudo levava a crer que suas relações com a política institucional e os políticos seria de considerável distância. Mas não é bem assim.

A morte de Adriano expõe, ao contrário, uma relação de proximidade com a família Bolsonaro bastante incandescente e sua morte deixa no ar uma pergunta sem resposta: queima de arquivo?

O fato concreto é que Adriano Nóbrega e Flávio Bolsonaro eram muito próximos, aliás, eram mais que próximos, eram íntimos.

O ex-policial foi citado na investigação do MP do Rio de Janeiro na investigação sobre a famosa “rachadinha” quando Flávio era deputado estadual. Segundo o MP-RJ, contas de Adriano foram usadas para transferir dinheiro a Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio e suspeito de comandar o esquema de devolução de salários.

De acordo com a Folha de S. Paulo “Queiroz e Adriano trabalharam juntos no 18º Batalhão da PM. Foi por meio de Queiroz que familiares de Adriano foram contratados como assessores no gabinete de Flávio: a mulher do ex-capitão, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, de 2007 até novembro de 2018, e a mãe dele, Raimunda Veras Magalhães, de abril de 2016 a novembro de 2018.”

Mas não para por ai. Em 2003 Flávio Bolsonaro apresentou uma moção de louvor em favor de Adriano Nóbrega. Em 2005, cumprindo prisão preventiva pelo homicídio de um flanelinha, Adriano recebeu uma honraria de Flávio Bolsonaro que é a Medalha Tiradentes, a maior condecoração da ALERJ.

Adriano recebeu também palavras de conforto e apoio em 2005 de Jair Bolsonaro, num discurso na Câmara dos Deputados por ocasião da condenação por homicídio.

As relações entre a família Bolsonaro, Adriano da Nóbrega e Fabrício Queiroz são íntimas e revelam muita proximidade política e pessoal.

Agora o miliciano foi morto e ficam muitas dúvidas no ar: a quem interessava sua morte? Quais suas relações no Escritório do Crime que poderiam incriminar a família Bolsonaro? E a “rachadinha” no gabinete de Flávio, que tinha a participação direta de seus familiares?

As condições em que o criminoso foragido foi abatido na ação da PM da Bahia continuam envoltas em mistério. O assunto, pela gravidade das relações misteriosas que envolvem o núcleo central do poder no Brasil, foi abordado superficialmente e os detalhes da operação circulam apenas entre os policiais que operaram a ação, e seus superiores que tinham conhecimento do quão pesado seria a morte de Adriano.

A família Bolsonaro recolheu-se em silêncio absoluto. Nada de declaração oficial, nada de postagem em rede social, nada de entrevista. Reina a aparente apatia cercada de mistérios e questões mal ou não respondidas.

Para completar o rocambolesco desfecho da caça ao criminoso a propriedade em que Adriano estava acomodado pertence a um vereador do PSL, que disse desconhecer a hospedagem do miliciano.

A ALERJ deveria retirar a Medalha concedida pela mais absoluta incompatibilidade entre seus propósitos e a vida pregressa do homenageado e os Bolsonaros deveriam vir a público dar explicações convincentes sobre as perguntas ainda sem respostas.

A dúvida paira no ar e flana um corpo pelas sombras do palácio do Planalto a causar arrepios nas estruturas do poder em Brasília.

Parece que as fake News são impotentes para sustentar mentiras inconvenientes e insustentáveis. A verdade parece cada vez mais próxima da superfície.

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