Áudios de Queiroz afundam ainda mais o governo Bolsonaro

Os apoiadores de Jair Bolsonaro gostavam de dizer na campanha, desdenhando de valores humanos e democráticos que poderiam acusar seu candidato de tudo, machista, misógino, racista, homofóbico, autoritário, despreparado, mas menos de corrupto. Pois é, depois que o esquema de rachadinhas e nomeações fantasmas envolvendo Queiroz e os gabinetes da família vieram à tona, podem […]

29 de outubro de 2019

Os apoiadores de Jair Bolsonaro gostavam de dizer na campanha, desdenhando de valores humanos e democráticos que poderiam acusar seu candidato de tudo, machista, misógino, racista, homofóbico, autoritário, despreparado, mas menos de corrupto. Pois é, depois que o esquema de rachadinhas e nomeações fantasmas envolvendo Queiroz e os gabinetes da família vieram à tona, podem chamar Bolsonaro com todos as letras de Corrupto sim.

Nem precisaria para essa afirmação buscar nas artimanhas mal explicadas do Queiroz, bastaria ver a conivência do Bolsonaro com o esquema de laranjal do PSL, mantendo até hoje no ministério do Turismo, o deputado de Minas Gerais Marcelo Álvaro Antonio mesmo com todas as evidências. É óbvio que aí rola uma relação de cumplicidade, Álvaro Antonio é mais um que deve ter muito a dizer sobre o chefe.

Mas é importante retomar de imediato a questão, Cadê o Queiroz? O todo poderoso motorista do presidente precisa dar explicações imediatas. É uma vergonha como ele foi blindado, inclusive, pelo STF, ao suspender as investigações a partir dos dados do COAF. Não é demais dizer, que não fosse o ministro Sergio Moro na Justiça e toda a leniência por parte do judiciário no tratamento da questão, Queiroz já estaria à beira de ser preso e já saberíamos muito mais coisas dos esquemas envolvendo a família Bolsonaro, talvez o presidente boquirroto nem estivesse mais no poder, dada a gravidade das denúncias.

Os últimos áudios do Queiroz que vieram a público mostram que além de operar o esquema de “rachadinhas” dos gabinetes da família, o ex. assessor atuava junto ao próprio Bolsonaro nas nomeações e exonerações dos gabinetes de todo o clã. “Na época, o Jair falou para mim que ele ia exonerar a Cileide porque a reportagem estava indo direto lá na rua e para não vincular ela ao gabinete. Aí ele falou: “Vou ter que exonerar ela assim mesmo”. Ele exonerou e depois não arrumou nada para ela não? Ela continua na casa em Bento Ribeiro”, é o que disse Queiroz, gravado em março deste ano.

Em outro áudio, Queiroz diz que quer assumir a direção do PSL do Rio de Janeiro para “blindar” Bolsonaro. “Espertalhão não vai se criar com a gente”, diz, mostrando que nunca foi um simples motorista, mas um operador político de Bolsonaro. Tem ainda a ameaça a Rodrigo Maia, deixando claro como o clã Bolsonaro vê o uso do Ministério da Justiça e da Polícia Federal ao seu dispor, como um instrumento político a serviço dos interesses da família.

Mais grave ainda é quando Queiroz se refere ao que ele chama de “hiperproteção” a Adélio Bispo. “O cara lá (Adélio) tá hiper protegido. Eu não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar ai. Vê, tal. É só porrada cara, o MP está com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente e não vem ninguém agindo”. Queiroz, no último áudio divulgado no domingo (27), se referindo a Adélio Bispo, autor da facada em Bolsonaro durante a campanha, segundo o jornal O Globo, que afirma ter a gravação completa do material.

Sem querer cair nas teorias conspiratórias, é muito estranho a referência feita por Queiroz sobre Adélio, ao mesmo tempo, ele dá um recado claro para o presidente, exigindo, mais proteção e acusando que sua proteção estaria sendo negligenciada.

Os áudios do Queiroz, aliado à crise interna do PSL, à CPMI das Fake News, ao desenrolar dos casos dos laranjas na campanha eleitoral, devem levar a uma situação insustentável, não tem Moro que segure, muito menos vídeo de Leão e Hienas para tirar o foco da crise.

A encalacrada em que Bolsonaro se meteu deixa claro que se trata de um governo, além de tudo, corrupto. A corrupção foi a linha condutora de todos os seus inexpressivos mandatos na Câmara do Deputado e dos mandatos de seus filhos, sempre usando a máquina pública ao bel prazer, para enriquecimento ilícito, para favorecimento de familiares, para não dizer outras coisas, como a relação para lá de suspeita com as milícias.

Mas o grande nó de Bolsonaro, o que ele nem Guedes resolve é a estagnação da economia, num claro contorno recessivo, com aumento da desigualdade e da miséria. Esse modelo de combinar um governo autoritário e tosco com uma linha ultraliberal vai deixando claro os seus limites. Bolsonaro é o político da história do país que mais rapidamente perdeu capital político, vive de um eleitorado de extrema direita, avesso à crítica e às contradições, mas que, apesar de todas as fake News, não tem como negar o fracasso desse governo. Está aí, na incapacidade da extrema direita e principalmente do projeto neoliberal de tirar o país da crise, a maior dificuldade de Bolsonaro. A exemplo do que ocorreu no Chile e no Equador, com explosões populares contra a desigualdade, as privatizações, a degradação das condições de vida, não é exagero dizer que isso possa ocorrer no Brasil. Não por obra de uma ação orquestrada, mas por reação mesmo, ao estilo de um levante popular, a uma situação insustentável. A questão, portanto, não é só derrotar Bolsonaro, mas derrotar o modelo neoliberal, que novamente, está sendo varrido da América Latina.

É nisso que reside o “Fora Bolsonaro”, não como uma consigna de vanguarda, mas como uma conclusão do próprio povo brasileiro, de suas ações para enfrentar um governo que cassa direitos, aprofunda a crise e governa para os ricos. A questão central neste caso é que a oposição de massas e unitária a Bolsonaro é urgente, cada dia que passa com esse escroque no poder é mais destruição do país em todas as áreas possíveis. Salvar o país antes que seja tarde portanto não cabe num cálculo de tática eleitoral, pois se coloca como um imperativo para todos os que defendem o Brasil e os brasileiros.

Ivan Valente

Deputado Federal PSOL/SP

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