Crise na Argentina é crise do modelo neoliberal
A Argentina afundou de vez em grave crise econômica e social. O governo Macri, saudado pela direita com a vitória nas eleições argentinas em 2015, foi alçado à condição de líder regional por impor uma derrota após 12 anos de kirchnerismo e pela promessa de implantar uma agenda neoliberal no país. Macri era a esperança […]
20 de agosto de 2019
A Argentina afundou de vez em grave crise econômica e social. O governo Macri, saudado pela direita com a vitória nas eleições argentinas em 2015, foi alçado à condição de líder regional por impor uma derrota após 12 anos de kirchnerismo e pela promessa de implantar uma agenda neoliberal no país.
Macri era a esperança das elites nativas de interrupção de um ciclo de governos de esquerda e de perfil social que dominaram o cenário na América do Sul até então. Sua vitória abriria as portas para a austeridade fiscal, privatizações, abertura e desregulamentação econômica, cortes nos programas sociais e equilíbrio orçamentário. Deu ruim.
A direita no poder seguiu a cartilha e apostou na benevolência com fundos internacionais, acreditando que isso garantiria aportes e investimentos que provocariam um impulsionamento no desenvolvimento econômica. O que se viu, na prática, foi a retirada de travas ao capital especulativo provocando forte endividamento externo, intensificado com as importações em massa.
As fragilidades econômicas foram se acumulando e no início de 2018 ocorrem fugas de capitais receosos de uma quebradeira geral. A reação do governo foi a de recorrer ao FMI por um acordo de resgate associado a um modelo insustentável de capitalização financeira, com a economia presa a um estado permanente de inflação e recessão persistentes.
O aumento da pobreza e da fome, endividamento familiar e o achatamento da classe média foram inevitáveis neste contexto. As primárias em 11 de agosto expuseram o descontentamento geral com Mauricio Macri (Proposta Republicana), que sofreu retumbante derrota para Alberto Fernández do partido Justicialista (PJ). As eleições acontecerão em 27 de outubro, mas o que emergiu das urnas foi um não desconcertante ao Macrismo, à direita e ao neoliberalismo.
Na tentativa de recuperar terreno político Macri troca o ministro da fazenda e pratica o mais baixo populismo eleitoreiro. Amplia a faixa de isenção no Imposto de Renda e nas deduções para a classe média e aos trabalhadores, reembolsa impostos já pagos, reduz carga tributária aos prestadores de serviços e microempresários, oferta auxílio aos trabalhadores informais e desempregados, aumento do salário mínimo, congelamento dos preços dos combustíveis, além de outras medidas.
O pacote beneficiará 17 milhões de trabalhadores, suas famílias, e todas as pequenas e médias empresas, que estão passando por um momento difícil e de muita incerteza — disse Macri em discurso recente.
O Estado foi demonizado nestes 4 anos de governo, mas agora o populista e demagogo Macri utiliza mecanismos de distribuição de renda e de intervenção estatal no mercado com a única finalidade de angariar apoio político para reverter a derrota iminente.
Os neoliberais se apoiam num cinismo desavergonhado, estruturado na ideologia do estado mínimo até que a crise derrube suas convicções e emparede seus líderes. Foi assim na crise de 2007/08 quando o governo Obama resgatou grandes empresas e bancos com dinheiro público e a balela do mercado livre desmoronou feito barragem em Minas Gerais.
A Argentina é mais um exemplo de que o neoliberalismo representa concentração de renda, miséria e fome e Macri mais um fantoche do grande capital a ser triturado pelos ventos da mudança.
Muito obrigado,
Ivan Valente