A saga imobiliária de Flávio Bolsonaro
As investigações sobre o atual senador da República, filho do presidente Jair Bolsonaro e ex-deputado estadual no Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, mostram que o parlamentar deve explicações à sociedade sobre seu patrimônio, assessoria e negócios. A conta não fecha. Comecemos pelo ramo imobiliário. A publicação do número de imóveis transacionados e a renda auferida […]
29 de maio de 2019
As investigações sobre o atual senador da República, filho do presidente Jair Bolsonaro e ex-deputado estadual no Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, mostram que o parlamentar deve explicações à sociedade sobre seu patrimônio, assessoria e negócios. A conta não fecha.
Comecemos pelo ramo imobiliário.
A publicação do número de imóveis transacionados e a renda auferida chamaram a atenção do Ministério Público do Rio de Janeiro, que obteve “o pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal de Flávio e outras 94 pessoas e empresas”, conforme relata o jornal o Estado de S. Paulo.
Os dados levantados em cartório mostram que Flávio Bolsonaro era uma máquina de fazer negócios rentáveis em plena crise econômica. Ele conseguia o que experimentes profissionais do ramo tinham imensa dificuldade em fazer: comprar barato, vender caro e em pouco tempo, num ambiente de forte retração econômica nacional com impactos significativos sobre o mercado imobiliário.
Os negócios envolvem 14 apartamentos e 23 salas comerciais, distribuídos nos bairros de Copacabana, Jacarepaguá, Botafogo e Barra da Tijuca.
A investigação mostra que entre 2010 e 2017 Flávio lucrou 3,089 milhões de reais em transações imobiliárias. No período, ele investiu 9,425 milhões de reais na compra de dezenove imóveis, entre salas e apartamentos.
Houve um caso exemplar de suas habilidades no ramo imobiliário: o prédio comercial Barra Prime. Em apenas 45 dias Flávio Bolsonaro lucrou R$ 300 mil líquidos no ano de 2010. A empresa MCA Participações que tem um dos sócios no Panamá (Listel SA) foi a compradora. Rememorando, o Panamá é uma grande lavanderia de dinheiro no mundo, conhecido como Paraíso Fiscal.
No ano de 2012 os negócios foram ainda melhores. Dois apartamentos em Copacabana lhe renderam lucros exorbitantes, apesar dos proprietários
anteriores lhe venderem realizando prejuízos. Foram mais de R$ 800 mil em apenas um ano, ou seja, 250% de lucro quando o mercado indicava que a valorização dos imóveis atingiu 10% em média.
Como pode tamanha eficiência? Para o MP carioca trata-se de subvalorização na compra e supervalorização na venda, o clássico caminho da tradicional lavagem de dinheiro.
Lavagem de dinheiro é também uma linha de investigação que envolve o principal assessor de Flávio Bolsonaro: Fabrício Queiroz.
Flávio já havia recebido depósitos em dinheiro em sua conta corrente feitos por Fabrício, seu motorista e, ao que tudo indica, recolhedor de caixinha dos assessores, numa combinação nada honrosa entre assessores fantasmas, lavagem de dinheiro e peculato.
Queiroz, aliás, tem o estranho comportamento de andar com dinheiro no bolso e fazer pagamentos em dinheiro vivo. Recentemente pagou assim a conta de seu tratamento médico no Hospital Albert Einstein: R$ 133 mil.
Que cidadão faz uma coisa dessas nos dias de hoje? Quem transporta tal soma em espécie correndo sérios riscos? Esta prática indica fuga do fisco e sonegação. Aguardemos as investigações do MP.
Há ainda outras ligações mal explicadas que devem ser investigadas com profundidade.
Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro aparecem em vídeos discursando no parlamento e em entrevistas, exaltando o papel que as milícias cumprem nas comunidades. A coisa evoluiu para condecorações e medalhas chegando ao ponto de incorporação à assessoria.
Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, mãe e esposa respectivamente de Adriano Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar, expulso da corporação, foragido e miliciano do Rio das Pedras, estavam lotadas no gabinete de Flávio Bolsonaro.
A família Bolsonaro e os milícias mantém relações de muita proximidade e promiscuidade.
O desabamento recente de dois prédios em Muzema, comunidade localizada no Itanhangá, Zona Oeste do Rio, trouxeram à tona uma prática
até então pouco explorada que se refere às relações entre milícias e o mercado imobiliário. A grilagem de terras e a construção de prédios irregulares alimentam os negócios que sustentam as milícias na região. Além de venda de gás, TV à cabo e segurança, prédios e terras também incluem as atividades.
O MP do Rio terá um grande e importante trabalho pela frente para o desenrolar da meada que envolve Flávio Bolsonaro e seus compadrios. Que venha à tona a verdade.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL SP