Bolsonaro no Chile, mas a crise é aqui

Chilenos protestam contra a presença de Bolsonaro no país

Nos dias 21 a 23 de março Bolsonaro foi ao Chile em sua terceira viagem oficial. Assim como as anteriores as vantagens obtidas não ficaram claras. O que ficou claro, no entanto, foi a combinação entre protestos e frases infelizes de Bolsonaro no Chile e a grave crise política no Brasil, que vai aos poucos, […]

27 de março de 2019

Nos dias 21 a 23 de março Bolsonaro foi ao Chile em sua terceira viagem oficial. Assim como as anteriores as vantagens obtidas não ficaram claras.

O que ficou claro, no entanto, foi a combinação entre protestos e frases infelizes de Bolsonaro no Chile e a grave crise política no Brasil, que vai aos poucos, assumindo a condição de crise de Estado.

No Chile o presidente Sebastián Piñera fez ressalvas incisivas aos elogios de Bolsonaro às ditaduras militares na América Latina. “Frases como a que citou são tremendamente infelizes”, disse Piñera. “Não compartilho muito do que Bolsonaro diz sobre o tema.”. Bom lembrar que Piñera é um presidente de direita.

Às vésperas da partida o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, elogiou a política econômica adotada pelo ditador Augusto Pinochet e disse que ele “teve de dar um banho de sangue”.

Os chilenos, evidentemente, foram às ruas contra estas barbaridades e um grande grupo de senadores boicotou os eventos em que Bolsonaro participou. A sangrenta e assassina ditadura de Augusto Pinochet é hoje fortemente repudiada pelas atrocidades e mortes cometidas, mas Bolsonaro e sua equipe enxergam qualidades nele e nos ditadores em geral.

O clímax da viagem, porém, não aconteceu no Chile e sim no Brasil. Bolsonaro jogou o desmonte da previdência na cota de responsabilidade dos deputados e, principalmente, no presidente da Câmara. Ao mesmo tempo é acusado pelos aliados de não se dedicar com ênfase ao tema. O tiroteio ganhou munição nas redes sociais e na grande imprensa.

A crise chegou ao ponto do presidente da Câmara indicar ao presidente da República que ele “precisa ter mais tempo para cuidar da Previdência e menos para o Twitter”. Desnecessário dizer que, pelo seu conteúdo antipovo, os que votarem na proposta do governo sofrerão forte rechaço na opinião pública e dos trabalhadores em geral.

Evidente que ambos defendem penalizar os trabalhadores e os mais pobres em benefício do capital financeiro, por isso o desmonte da previdência exige muita articulação política. A divergência é de forma e não conteúdo.

No jogo de empurra ainda entraram na festa dos absurdos o filho Carlos, pródigo em criar confusão e o ministro Sérgio Moro. Carlos ataca Maia, que responde a Moro e este contra-ataca Maia.

Como se não bastassem as trapalhadas e tropicões a operação Descontaminação, desdobramento da Lava Jato do Rio, levou à prisão o ex-presidente Michel Temer e mais 7 pessoas acusadas de obstrução de justiça. A fraqueza do argumento evidenciou que a Lava Jato estava dando uma demonstração de força política e cacifando Sérgio Moro dos ataques sofridos e contra o STF que havia impedido a criação do fundo com dinheiro da Petrobrás pelos procuradores de Curitiba. A única certeza é que a Lava Jato fugiu de suas prerrogativas e competências e atuou como força política.

Em plena crise econômica, que leva ao desemprego milhões de brasileiros e a crise política originada pela inépcia e incompetência de Bolsonaro e seus filhos, agora se instalou no Brasil uma crise de Estado, onde os três poderes se engalfinham e a República desce a ladeira.

A agenda de viagens, inclusive, expõe uma contradição evidente entre discurso e prática. Eleito com a promessa de quem iria “desideologizar” o Estado brasileiro, seus discursos, agendas, postagens e entrevistas apontam exatamente o contrário. Israel está na fila das viagens oficiais e os termos esquerda, socialismo e doutrinação ainda frequentam seu vocabulário com incompreensível insistência. A mistificação pode agradar os mais incautos, mas é pouco eficiente diante das exigências da governabilidade.

O epicentro dos problemas se chama Jair Bolsonaro, acompanhado de seus filhos tresloucados e delirantes. O Brasil está nas mãos de um patriarcado em plena República, sob o comando de um presidente simpático às ditaduras em plena democracia e dirigido por um inepto em plena crise de comando.

O momento é de grave crise, mas com toda certeza a família estará mais preocupada com discursos ideológicos pueris e fermentar divergências frívolas do que apontar caminhos de sua superação, que passa pela distribuição de renda, de um país mais justo e pela expansão da democracia. Esperar isso dele é exigir demais.

Ivan Valente

Deputado Federal PSOL SP

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